Á procura de Eça de Queirós pelo Porto! A nota introdutória de Carlos Reis acerca da Ilustre Casa de Ramires faz-se ler da seguinte forma: «Numa carta ao seu amigo Conde de Ficalho, com data de 15 de junho de 1885, Eça de Queirós declara «Debalde, amigo, se consultam in-fólios, mármores de museus, estampas e coisas em línguas mortas: a História será sempre uma grande fantasia.1» - comenta o autor enquanto se refere à pesquisa histórica sobre a história do Cristianismo que realizava, entretanto, para a sua obra A Relíquia enquanto exercia funções em solo britânico como consúl.
Eça de Queirós um dos grandes autores literários do realismo português no final do século XIX, nascido na Póvoa do Varzim frequenta, no Porto, o Colégio da Irmandade da Lapa, na altura dirigido por Joaquim Ortigão, pai de Ramalho Ortigão. Com uma diferença de idade de 10 anos entre si, Eça de Queirós e Ramalho Ortigão iniciam a sua amizade e convivência nesta altura. Ramalho Ortigão leciona francês nesta instituição e sucede ao pai como diretor em 1860. Eça de Queirós fará a escolaridade obrigatória neste colégio até 1861 quando aos 16 anos entra em Direito na Universidade de Coimbra. Eça em conjunto com Ramalho Ortigão participará de uma sucessão de acontecimentos que vêm a demarcar novas direções no pensamento literário, político e social da época até à instauração da primeira República.Em Coimbra e Lisboa entre 1865 e 1866 é debatida de forma acesa a Questão Coimbrã ou a famosa Questão Literária por entre «cartas, crónicas e artigos de imprensa, opúsculos, folhetins, poesias e textos satíricos, alusões em conferências (Bulhão Pato) ou mesmo discursos parlamentares2». Uma discussão que opõe pensamentos emergentes sobre o papel da literatura na sociedade e o seu valor como um meio de despertar a mudança de mentalidades rumo a novas formas de governo sociais e à instauração da República. Nesta sequência, é formado o grupo intelectual de oposição política o «Cenáculo» entre 1867 e 1871. Dentre este grupo, fundado por Antero de Quental, para além de Eça de Queirós e Ramalho Ortigão fazem parte Teófilo Braga, Oliveira Martins e Jaime Batalha Reis. Ainda em 1871, são organizadas as Conferências de Casino ao mesmo tempo que Eça publica com Ramalho Ortigão As Farpas entre 1871 e 1882, uma publicação de oposição política bem conhecida de teor irónico e satírico. Da colaboração com Ramalho Ortigão resulta o Diário de Notícias no qual é lançado O Mistério da Estrada de Sintra entre julho e setembro de 1870 escrito pelos dois autores. No Porto a publicação é colocada ao público nas casas Martins & Peres na Rua de Santo António, agora a atual Rua 31 de janeiro, bem como na livraria Chardron antes de se tornar na Lello & Irmão, como é conhecida até hoje. Em 1870 , sem êxito como advogado, Eça candidata-se a concurso à carreira de diplomata. Recebe a nomeação como Cônsul para Havana em 1872. Em 1874 é transferido para Newcastle, em 1876 para Bristol e por fim em 1888 para Paris onde vem a falecer. Aos 41 anos, ainda em 1886, Eça casa com Emília de Castro Pamplona filha dos Condes de Resende na capela particular da família na Quinta de Santo Ovídio no Porto. Esta mesma Quinta conhecida pela extensão dos seus jardins e pela sua beleza palaciana de que foi exemplo era limitada por um grande portão armoriado no entroncamento com as Ruas de Álvares Cabral, Cedofeita e Travessa da Figueiroa. A atual Praça da República, antiga Praça de Santo Ovídio fornece indicações quanto ao lugar da antiga casa senhorial desta quinta, demolida para dar lugar à artéria para a Rua Álvares Cabral com ligação à Rua de Cedofeita e Rua Campo Mártires da Pátria. Atualmente, é possível revisitar o tempo de Eça na sua obra através de dois espaços que se dedicam à preservação e divulgação do trabalho e legado de Eça de Queirós, a Fundação Eça de Queirós em Santa Cruz do Douro e mais próximo a Confraria Queirosiana no Solar dos Condes de Resende em Canelas - Vila Nova de Gaia. Texto por Ágata Costa 1 Eça de Queirós, Correspondência; leitura, coordenação, prefácio e notas de Guilherme Castilho; Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1983 ( citado por Carlos Reis em Eça de Queirós, «Introdução», A Ilustre Casa de Ramires; Ed. Presença, 2004) 2 Margarida V. Mendes, «Questão Coimbrã», em Helena C. Buescu ( coordenação de), Dicionário do Romantismo Literário Português, Caminho, 1997 |