MARQUES DA SILVA E O PORTOJosé Marques da Silva nasceu no Porto em 1869. Iniciou a sua formação como arquitecto na Academia Portuense de Belas-Artes, onde foi aluno, de Soares dos Reis. Em 1889 partiu para Paris com o objectivo de ingressar na École Nationale et Spéciale des Beaux-Arts, cidade onde obteve o grau de Arquitecto Diplomado pelo Governo Francês, em 1896.
Marques da Silva regressou a Portugal em 1896 para iniciar uma intensa actividade profissional que rapidamente lhe granjeou o reconhecimento público. Com projectos como a Estação de S. Bento (1896), o Teatro Nacional de S. João (1910), o Edifício das Quatro Estações (1905), os Liceus Alexandre Herculano (1914), a "Casa da Irmandade da Lapa", edifício geminado à Igreja (c. 1910-1915), Liceu Rodrigues de Freitas (1919), os Armazéns Nascimento (1914), a Casa de Serralves (1925-1943) ou o Monumento aos Heróis da Guerra Peninsular (1909), moldou a fisionomia da cidade do Porto, mas a sua actuação também se estendeu a outra regiões do norte do país, em particular a Guimarães, cidade para a qual viria a projectar vários edifícios emblemáticos tais como a sede da Sociedade Martins Sarmento, o Mercado Municipal ou o Santuário da Penha. A sua obra, num momento de mudança das práticas construtivas, aliou aos valores da tradição beauxartiana as componentes da razão, traduzindo-se em projectos funcionais e adaptados às mecânicas da vida moderna e na defesa de um modo muito próprio de entender a construção da cidade. A actividade docente de Marques da Silva iniciou-se em 1900, na qualidade de Professor de Desenho e Modelação no Instituto Industrial e Comercial do Porto. Em 1906 é nomeado professor de arquitectura na Academia Portuense de Belas-Artes, vindo a ocupar posteriormente o lugar de director da então já designada Escola de Belas-Artes do Porto (1913-1914; 1918-1939). Será ainda director e professor da Escola de Arte Aplicada Soares dos Reis (1914-1930). O desenho, como instrumento central da prática do projecto e base de transmissão de processos metodológicos estáveis, mas capazes de reagir às múltiplas solicitações da sociedade, foi o motor do seu ensino. Esta estratégia garantiu-lhe a estima de várias gerações de arquitectos modernos que, partindo da base académica sedimentada por Marques da Silva, souberam reinventar a prática da arquitectura portuense. Marques da Silva faleceu em 6 de Junho de 1947, na sua residência à Praça Marquês de Pombal, no Porto, tendo sido sepultado no Cemitério da Lapa, em jazigo da sua autoria. Nas suas múltiplas frentes de actuação, este académico de mérito das Academias de Belas-Artes de Lisboa e Porto, membro do Conselho Superior da Sociedade de Belas-Artes, sócio n.º 1 da Sociedade dos Arquitectos do Norte (encontrando-se colaboração da sua autoria no Anuário da sociedade de arquitetos portugueses), deixou um legado duradouro na cultura arquitectónica portuense, na paisagem da cidade, na cultura de projecto dos arquitectos, nas práticas de ensino, numa certa forma de fazer e pensar a arquitectura que se foi consolidando no Porto ao longo do século XX. |